A palavra “loft”, de origem norteamericana , originalmente significava amplos espaços abertos em prédios industriais ou armazéns dos Estados Unidos. Atualmente usa-se o termo para designar grandes espaços residenciais em prédios reabilitados, surgindo um novo conceito de habitação. Nem tão novo assim, uma vez que este movimento iniciou-se em Nova York no final dos anos 50. Por razões variadas da dinâmica econômica, prédios foram desocupados onde antes era, normalmente, periferia, e foram aos poucos sendo habitados clandestinamente por estudantes e artistas de baixo poder aquisitivo com necessidade de áreas maiores.
De lá para cá muitas coisas foram acontecendo, as grandes cidades se transformando, houve uma grande valorização imoiliária e vários projetos de “melhoria” urbana colocados em curso no mundo inteiro. De tal forma que, atualmente viver num loft passou a ser chique, um sinal de pessoas descoladas, modernas e conectadas. Criou-se então, e é disto que quero falar, o mito de viver num loft.
Sinto isto na própria pele, no convívio com meus clientes e até mesmo na experiência particular em projetar e construir minha própria casa. Todos em princípio querem um loft, precisam de um loft. É como se de repente todos os outros modelos não servissem mais, ficassem obsoletos, e então pede-se ao arquiteto: “eu imagino um espaço assim, amplo e aberto, sem paredes...tudo integrado e com grandes alturas.Talvez um grande mezanino onde eu possa dormir.”
Lindo, perfeito...a pessoa parece realmente encaixar-se neste programa, e cria-se então uma aura de contemporaneidade, simplicidade sofisticada, um certo ar de quem sabe o que quer e sabe das coisas.
Bem...a realidade então começa a mostrar sua cara já nos primeiros momentos onde o arquiteto, debruçado sobre o teclado ou sua prancheta(esta, totalmente em desuso...out) tenta esboçar este tal espaço aberto e compatibilizar tantas funções como dormir tranqüilamente, fritar um peixinho, ouvir música, trabalhar, dançar, enfim...e tudo isso ainda levando-se em conta a presença de 2 ou mais indivíduos, que podem ter diferentes idades, humores, gostos. Em pouco tempo aquilo que era para ser completamente clean e arrojado vai se transformando numa casa normal, com paredes, banheiros, portas, janelas e todas aquelas coisinhas que pareciam não ser necessárias, mas...
Piadas a parte, o fato que quero levantar passa um pouco por aí, sim ...pelo engraçado da situação. O hiato que existe entre aquilo que almejamos e aquilo que é possível ou realmente plausível com as nossas realidades, sejam elas econômicas , sociais, antropológicas, etc. Por mais que a gente almeje, por mais que a gente queira, ainda não habitamos o tal loft idealizado...nos cinemas, nos pensamentos, nos nossos devaneios noturnos. O que se faz então são tentativas, arranjos espaciais que tentam trazer alguma ilusão de um ambiente “maiorzinho”, “bastante integrado”, limpo, alto...nem que o máximo que se conseguiu foi dividir a sala de estar da cozinha com um daqueles blacões de 1,10mt de altura onde, enquanto a mãe da gente prepara o almoço, nós nos sentamos na banqueta em frente ( mais altinha que uma cadeira normal) escorados no granito, mastigando aquela azeitoninha sem caroço.
Arq. Mário Vinicius Born
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Gostei do post!
ResponderExcluirVivo em um loft e curto muito.